Flórida vira refúgio de abastados da Venezuela

11/05/2015 - Folha de São Paulo

O condomínio Oasis, em construção na cidade de El Doral, na grande Miami, terá 132 casas com valor inicial de US$ 1,5 milhão.

Ao menos cem foram vendidas para uma nova categoria de estrangeiros que está injetando fortunas na economia local: os venezuelanos.

Fugidas da violência ou vítimas das medidas econômicas do governo socialista, milhares de famílias abastadas vêm se mudando para Miami e arredores, levando consigo economias pessoais e dinheiro para investir.

O número de venezuelanos legais nos EUA saltou de 91 mil em 2000 para 259 mil em 2012, segundo dados oficiais. Cerca da metade vive na Flórida, e em especial em El Doral, apelidada de Doralzuela.

"Sempre houve venezuelanos em Miami, mas antes eles vinham a passeio. Hoje eles vêm para ficar", diz o prefeito de El Doral, Luigi Boria.

Ecoando opinião unânime, Boria vê um salto no fluxo de chegadas desde 2012, no embalo da deterioração da situação na Venezuela.

O impacto econômico dessa migração ainda não foi medido, mas sinais saltam aos olhos, principalmente no setor imobiliário.

Quase metade dos compradores latinos de imóveis na Flórida são venezuelanos, 87% dos quais pagam em dinheiro vivo, diz a corretora International Sales Group.

Em El Doral, quase todos os corretores são venezuelanos, para atender à nova classe de clientes, muitos dos quais não dominam o inglês.

Dos US$ 2 bilhões investidos no projeto Midtown Doral, um complexo de casas e shopping em construção, 80% saíram do bolso de venezuelanos, segundo Boria.

"Fala- se muito em El Doral, mas venezuelanos compram também em áreas centrais, como Brickell. Uns querem residências, outros usam como investimento", diz o corretor Francisco Angulo.

Outro setor visado pelos venezuelanos é o de exportação- importação. "É uma maneira de manterem contato com a Venezuela, onde muitos ainda têm negócios", diz a consultora Maria Antonietta Díaz, especializada em amparar recém- chegados.

Venezuelanos também são grandes consumidores de artigos de luxo. "Minha melhor clientela estrangeira é da Venezuela", diz Nelson Velez, gerente da seção Porsche na The Collection, uma das concessionárias mais exclusivas de Miami.

Na reluzente nova loja da Apple em Miami Beach, o que mais se ouve é o sotaque dos clientes venezuelanos.

A maior parte da comunidade é antichavista. Mas Miami também abriga boliburgueses, empresários que enriqueceram graças a contratos com o governo.

CHOQUE CULTURAL

Nem tudo é fácil para investidores venezuelanos em Miami. O empresário Alberto J. chegou há três semanas, mas já pensa em voltar para Caracas.

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