Primeira base militar chinesa além-fronteiras sugere nova estratégia de Pequim para África

17/07/2017 - Diário de Notícias (Portugal)

A China enviou esta semana soldados para a sua primeira base militar além-fronteiras em seis décadas, no Djibuti, sugerindo uma mudança na sua estratégia para África, segundo analistas.

A inauguração da base militar no Djibuti servirá para apoiar missões anti-pirataria, de manutenção da paz e assistência humanitária em África e na Ásia ocidental, de acordo com Pequim.

A abertura da base ilustra também a expansão do alcance das Forças Armadas chinesas, acompanhando a crescente influência da China no continente africano.

O país asiático é o principal parceiro comercial de África, de onde importa grande parte das matérias-primas de que precisa.

A China e o Djibuti estabeleceram relações diplomáticas em 1979, mas a presença chinesa no país só ganhou ímpeto nos últimos anos, com a construção de grandes infraestruturas, que incluem um porto, dois aeroportos e uma ligação ferroviária à Etiópia.

Pequim está a experimentar no Djibuti como "estabelecer uma presença a longo prazo que seja bem-vinda e beneficie a população local", escreve François Dubé, jornalista na revista ChinAfrica.

"Apenas assegurando o apoio das comunidades locais, a China pode concretizar as suas ambições na região: desenrolar a 'Rota da Seda Marítima do Século XXI'", acrescenta Dubé.

Divulgado em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, aquele projeto visa reativar a antiga via comercial entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático.

O projeto inclui uma malha ferroviária, portos e autoestradas que permitam à China assegurar o fluxo de recursos naturais para o seu mercado e dos produtos transformados para a Europa.

As instalações do Djibuti permitirão também à China retirar cidadãos chineses radicados em África e no Médio Oriente. Só no continente africano, estima-se que vivam cerca de um milhão de chineses.

Em 2011, Pequim teve de retirar 35.000 cidadãos chineses da Líbia, durante a guerra civil no país, no que terá alertado as autoridades chinesas para a importância de uma presença militar além-fronteiras.

Segunda maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos, e país mais populoso do planeta, a China não tinha uma presença militar permanente fora do país desde a Guerra da Coreia (1950-53).

O princípio de "não intervenção" foi durante décadas apregoado pela diplomacia chinesa.

Contudo, desde a ascensão ao poder de Xi Jinping, em 2013, Pequim passou a adotar uma política externa mais assertiva.

Nos últimos anos, passou a reclamar a quase totalidade do Mar do Sul da China, onde construiu ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em recifes disputados pelos países vizinhos.

Os Estados Unidos mantêm no Djibuti a sua única base militar no continente africano, Camp Lemonnier. Espanha, França, Itália e Japão também têm instalações militares no país.

O aluguer da base irá custar a Pequim 20 milhões de dólares (17,5 milhões de euros) por ano. O negócio garante presença militar chinesa no país até 2026, com um contingente de 10.000 soldados.

Nos últimos anos, a China tem expandido os seus laços militares em África e, segundo um relatório do Conselho Europeu de Relações Internacionais, a cooperação com o continente africano em questões de paz e segurança é agora uma "parte explícita da política externa chinesa".

Em 2015, o Presidente chinês comprometeu-se a contribuir com 8.000 capacetes azuis para a ONU e com 100 milhões de dólares (87,5 milhões de euros) para as forças militares da União Africana.


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