A moderna 'torre' da UNE no Rio de Janeiro

17/05/2015 - O Estado de São Paulo

O sangue do PC do B ainda corre nas veias dos dirigentes da União Nacional dos Estudantes (UNE), mas a oportunidade de lucrar com a propriedade privada - no caso, um terreno em ponto privilegiado da zona sul do Rio - não foi desprezada. Depois de muitos atrasos, avança rapidamente a construção do edifício comercial de 12 pavimentos (térreo mais 11 andares) Torre Flamengo, no histórico terreno da UNE, no número 132 da Praia do Flamengo.

Em vez de aplicar recursos próprios, já que, entre 2011 e 2012, a UNE recebeu R$ 44,6 milhões em indenização da União pelos danos sofridos na ditadura militar, os estudantes se associaram a uma investidora suíço-brasileira, que vai bancar a obra e explorar o empreendimento, alugando as salas. As informações obtidas pelo Estado são de que a obra custará R$ 65 milhões. A área construída é de 10.360 metros quadrados.

Os estudantes ficarão com o bloco de dois pavimentos e 1.680 metros quadrados, onde haverá, além de auditório para 200 pessoas, duas salas de exposição, duas salas multimídia e café. Os espaços poderão ser usados pela UNE e alugados.Também será dos estudantes a área aberta de convivência entre o prédio principal e o anexo. A obra deverá ficar pronta antes dos Jogos Olímpicos de 2016.

Haverá entradas separadas para a área da UNE e para o edifício comercial, onde cada andar terá de 400 a 500 metros quadrados. A garagem ocupará dois subsolos. Tudo isso em local perto do centro, a poucos metros do metrô e com a bela vista da Baía de Guanabara.

Doação. O projeto do moderno prédio com fachada de vidro e certificado de boas práticas ambientais foi doado à UNE pelo arquiteto Oscar Niemeyer - célebre comunista morto em 2012, aos 104 anos - e desenvolvido pelo escritório de João Niemeyer, neto do arquiteto.

Nesta fase empreendedora, a UNE, que desde 1991 é presidida por militantes do PC do B, escolheu empresas de ponta. A construtora é a WTorre, gigante do setor responsável por obras como o shopping JK Iguatemi e o novo estádio do Palmeiras, em São Paulo, e a nova sede da Petrobrás, no Rio.

A multinacional CBRE será encarregada do aluguel das salas. A consultoria Balbi & Associados é intermediária entre a UNE e as empresas. A Control Tec gerencia a obra. Uma animação encomendada pela UNE, divulgada no YouTube, detalha o projeto e sugere que o terraço na cobertura seja ocupado por um restaurante.

Sigilo. Como grandes empreendimentos em andamento, o Torre Flamengo está cercado de sigilo. Nenhuma empresa atendeu aos pedidos de entrevista do Estado.

Procurada várias vezes, a UNE não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem. Não esclareceu, por exemplo, como será sua participação no lucro do empreendimento e por quanto tempo a investidora explorará o aluguel das salas. Contratos do tipo duram em geral entre 20 e 35 anos, com opção de renovação. A UNE também não informou como aplica os R$ 44,6 milhões recebidos da União.

O terreno da União Nacional dos Estudantes se confunde com a história da militância estudantil.Lá funcionava a Sociedade Germânia, ocupada pelos jovens em 1942. O prédio virou sede da entidade e acabou incendiado após o golpe de 1964.

O que restou foi demolido em 1980. A polícia reprimiu com violência um protesto contra a derrubada. Durante 20 anos, a UNE travou uma batalha judicial com a família que passou a explorar uma garagem no terreno. Conseguiu reaver a propriedade em 2007.

O prédio está em construção em hora de forte retração do mercado imobiliário carioca. Dados da Secovi Rio, sindicato de administradoras e imobiliárias, apontam que o valor médio do metro quadrado de salas no Flamengo chegou, em abril, a R$ 120,73, 14% a menos do que os R$ 140,80 do mesmo mês de 2014.

No caso do Torre Flamengo, profissionais ouvidos pelo Estado calcularam que, se o edifício estivesse pronto, pela localização privilegiada e características do prédio, o aluguel do metro quadrado poderia ficar entre R$ 140 e R$ 150 mensais.

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