A invasão silenciosa de Cuba na Venezuela

Muito se sabe da incursão de cubanos em áreas como educação, saúde e esporte; menos visível é a presença em uma área sensível como a Inteligência militar

POR EL COMERCIO - PERU /GDA

29/04/2014 - O Globo


Manifestante é detido pela Guarda Nacional durante uma marcha antigoverno em Caracas
Foto: CHRISTIAN VERON / REUTERS
Manifestante é detido pela Guarda Nacional durante uma marcha antigoverno em Caracas
Foto: CHRISTIAN VERON / REUTERS

CARACAS — “Cuba é o mar de felicidade. A Venezuela vai na mesma direção”. Quando em plena campanha presidencial de 1998 os venezuelanos se inteiraram de que essa frase era o que acreditava o então candidato Hugo Chávez, não foram poucos os que começaram a suspeitar que o militar, que seis anos antes foi conhecido por tentar chegar ao poder pela força, seguiria os passos do ditador Fidel Castro. Seu carisma e promessas de mudança, no entanto, eram mais fortes do que as dúvidas.

No primeiro momento, o pagamento foi feito por meio do envio de médicos e professores para programas de alfabetização e saúde, depois se estendeu para a área de esportes, registros e cartórios, sistema de identificação e imigração até chegar, depois da tentativa de derrubar Chávez em 2002, às áreas sensíveis de Inteligência e Defesa. Foi o próprio falecido presidente que reconheceu a existência da assessoria cubana.

— Os cubanos estão nos ajudando — revelou Chávez em abril de 2010, dias depois de o general Antonio Rivero, que chefiou a direção de Proteção Civil durante os primeiros anos de seu mandato, denunciar a ingerência de militares cubanos nos quartéis venezuelanas, especificamente nas áreas de planejamento, organização e formação.

Rivero, em uma segunda denúncia apresentada em 2013, disse que havia 300 funcionários cubanos no Forte Tiuna, a principal base de Caracas e onde se encontra a Academia Militar e a sede do Ministério da Defesa e do Comando Geral do Exército. Ele afirmou que Ramiro Valdez, ex-ministro das telecomunicações de Cuba, seria uma das principais peças da operação.

Entre a ficção e a realidade

Na sequência dos protestos estudantis nas últimas semanas, começaram a circular versões de que teria chegado ao país centenas de Vespas Negras, membros de uma organização paramilitar cubana, que teria como objetivo vestir-se como Guarda Nacional (polícia militarizada) e reprimir os manifestantes. No entanto, nenhuma prova foi apresentada. Muitos acreditam que se trata de uma pura guerra psicológica entre os críticos do governo.

O vice-almirante Rafael Huizi Clavier, presidente da Frente Militar Institucional (FMI), que reúne militares aposentados críticos ao chavismo, pediu para que questão seja levada a sério.

— A presença cubana no FAN (Forças Armadas Nacionais) não é ficção, mas uma realidade. Cubanos e venezuelanos admitiram — disse Huizi ao lembrar o caso do general de Exército Rodolfo Camacho, que dias depois da morte de Chávez, em uma viagem a Havana, disse que o país seguiria o caminho revolucionário de Cuba.

Termos semelhantes foram usados por Rocío San Miguel, presidente da Organização Controle Cidadão para a Segurança e Forças Armadas. Nem o oficial, nem Rocío precisaram quantos militares cubanos estariam na Venezuela, mas disseram que se encontram em lugares não visíveis.

— A cooperação militar cubana foi reconhecida por Chávez. Além disso, há importantes acordos assinados para a manutenção de navios da Marinha e sabemos que aqueles que estão envolvidos em cursos do Estado Maior viajam à ilha como parte de seu treinamento — disse. — Não estamos falando de soldados, mas de coronéis ou generais que vêm para cumprir função de assessores e estão em locais-chave.

Ela afirmou ainda que “todos os cubanos que deixam a ilha para cumprir serviços médicos, educativos, de assistência de esportes ou de qualquer outra coisa é considerado combatente, conforme estipulado pela lei cubana”.

Em meados de 2012, a Venezuela tinha 44.804 colaboradores nas chamadas missões sociais: 31.700 em saúde (11 mil médicos, 4.931 enfermeiros, 2.713 dentistas, 1.245 optometristas e 11.544 não especificados), 6.225 no esporte, 1905 em cultura, 735 em atividades agrícolas, 486 em educação e 54 em cuidados para pessoas com deficiência. O número diverge entre as fontes e a aqueles que descartam a ideia de que militares estrangeiros, apesar de instalados em instituições venezuelanas, estejam dando ordens em soldados locais.

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